No Playground do sexo

Por João Wady Cury


O meu mamilo direito.Não me lembrava,de tão recentemente,ter sido usado com tanta volupia.Estavamos no meio de umas 300 pessoas,mas Simone não se importou:esfregava sua mão em meu peito as vezes rapidamente,outras bem devagar.Muito próxima do meu rosto, ou algum tipo de derrrame que a deixou daquele jeito.Ela tentava se aproximar,cada vez mais,o seu corpo do meu.Sentado em um banco de bar,eu via em volta,homens assediados por moças de maiô ou biquini.Alguns casais, como namorados adolescentes,enganchavam-se romanticamente ums nos outros pelos cantos.
Aquela loira nada bonita,com os cabelos evidentemente descoloridos,foi o meu caminho de entrada em um dos lugares mais procurados da noite pelo homem casado que procura sexo seguro.Sim,muito seguro.Logo na entrada,uma senhora na recepção transmite,simpática mas mecanicamente as regras do jogo:"São R$ 70 para entrar,sem direito a consumação,mais R$ 100 por casal,para usar o quarto por 1 hora-se o senhor preferir subir com duas moças,pagara R$ 150.A comissão das meninas é variavel,mas sempre fica entre R$ 100 e R4 200.Aceitamos tbm cartões de credito".Explicação exclarecedora:um programa como aquele,limitando o apetite sexual por uma única horinha,custava pelo menos R$ 270,considerando que o vivente não consumisse nem um copo de água.Depois as pessoas não sabem porque prostituição, como a ''industria''do casamento,é um dos negocios mais lucrativos da história da humanidade.
Ganho uma chapinha com um número de identificação,que fica pendurada em uma pulseira de borracha.Coloco no pulso e me sinto um bebê de berçario.Passando a recepção,uma moça faz as vezes de hotess,abrindo a porta vaivém.Em forma de corredor polones,as meninas postam-se logo na entrada para conquistar quem vai chegando.Não há tempo a perder. Olhares lânguidos de filmes pornôs,elas se derretem para os frequentadores habituais.Quando gostam de alguem,insinuam-se.Quando não gostam,insinuam-se da mesma maneira.É a alma do negócio.
Depois de me desvencilhar de Simone,uma tarefa que não foi muito fácil-ela era insistente e só desistiu quando eu disse que era professor e deve ter imaginado meu salário-passei pelo corredor e fui conhecer a casa.Decoração de american bar ou seja,espelhos e detalhes em dourado por todos os lados,o térreo restringe-se a um salão com pequenas mesas,um palco e no fundo,uma mesa de sinuca perto de uma fonte de água decorativa.Estamos todos na penumbra,o que poderia sugerir uma boite vietnamita.Mas o ambiente é alegre:música alta,tv ligada,gargalhadas.Encosto próximo a mesa e vejo Vera.(o nome é ficticio)Muito bonita,cabelos curtos,loira.O corpo perfeito.Nas mãos,um taco de sinuca,com o qual prepara a próxima jogada.Talvez isso justifique o assédio constante que sofre e o seu olhar de tédio:a maioria dos homens que passam pergunta,inevitavelmente,se ela é boa de buraco.A tática é grosseira,infantil e nenhum deles conseguiu convence-la a fazer programa,enquanto estive parado alí.
Para se vingar,Vera escolhe o cidadão mais feio,o rosto coberto de espinhas,e tasca-lhe um beijo na boca.''Obrigado querido''diz ela.O rapaz sai meio sem jeito,cambaleando sem saber o que o atropelou.Não foi mais visto.
Esqueço deles e olho para a frente,Bruna vem passando por mim,como se apenas ela estivesse em câmera lenta.Tenta me seduzir-num lugar como este,olhar para uma mulher por mais de dois segundos,significa chama-la-me encarando.Não dou bola,mas mesmo assim ela vem na minha direção.Chega bem perto da minha boca.Não tenho mais como olha-la.Mais um pouco e ela derrubará uma das leis da fisica-dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço simultaneamente.Ela bafeja um''oi querido''.Melado.Respondo,sem jeito,como quem cumprimenta um conhecido qualquer de quem se esqueceu o nome:

-Tudo legal? Mas ela é objetiva
-Que tal um programinha?Não tenho preconceitos,faço tudo o que você quiser...
-Não sei,não.Estou meio cansado.
-Quer sentir a mercadoria?-e logo em seguida,ordena: -Põe a mão na minha bunda.Sente.-diz ela com labios de Mick Jaggaer.
Um silêncio sepulcral toma conta do metro quadrado que ocupamos.Ela me olha,acho que ansiosa por uma ereção.Sim,trata-se de uma bunda rechonchuda,de uma lordose tão proeminente que deixaria Carla Perez com inveja.Bruna ataca:
-Ainda está cansado?
-Desculpe,mas acho que sim.
-Ah,mas eu dou um jeito nisso.Posso fazer uma massagem ótima.
-Acho que estou tão cansado que dormiria no meio.
-Será que o problema não é fome?
-É verdade,ainda não jantei.
-O que tem vontade de comer?
-Acho que um churrasco.
-Tenho uma outra opção querido.
-Qual?
-O meu rabinho.
-Você é fina mesmo né?
Simpática essa Bruna.E objetiva.Começa a se roçar no meu corpo,esperando alguma coisa acontecer.Passam-se uns cinco ou seis segundos constrangedores em que ela fica me fitando e eu a ela.Nada.Bruna,pára.
Hoje não é o meu dia né?
-Você deve ver por outro lado...-tento argumentar.
-Tchau querido.
Decido fazer uma sauna.Desço uma escadaria e descubro,no andar de baixo,omotivo para qualificar a casa como um balneário(assim diz o letreiro do lado de fora).Em um grande telão,no qual o videoclipe sem som do Julio Iglesias não combina com a música country que sai dos alto-falantes.Grupos conversam;alguns casais se engalfinham nas espreguiçadeiras e Julio Iglesias continua no telão,firme contra o império caipira de Zezé di Camargo e Luciano.No vestiário,tiro a roupa e visto um roupão.Em frente está o vestiário feminino,onde vejo as moças se preparando para o árdua batalha da noite-segundo algumas delas,quando o movimento está bom,conseguem quatro ou cinco clientes por jornada.No total,são oito horas de trabalho,sem registro profissional,fundo de garantia,décimo-terceiro,cesta básica ou plano de saúde.Mas também não tem mordida do leão e a contribuição à falida Previdência.
No caminho da sauna,aparece Simone outra vez.Talvez ela queira conversar novamente com o meu mamilo direito. Ainda sem jeito do assédio anterior,tento desviar,mas ela não deixa:

-E aí,já decidiu?-cobra
-Não.
-Vou fazer uma massagem deliciosa em você.Vamos?-sua mão sobe e desce em meu tórax.Ali no meio de tantas pessoas era constrangedor.Seguro a mão da moça:
-Olha Simone.Vamos conversar depois.Estou indo fazer uma sauna-e escapo rapidamente
Á esquerda,no corredor de entrada,os chuveiros.Ao fundo,as salas de sauna,vapor e seca.Eu imaginava ver um ambiente de fazer inveja a Calígula,com copos se misturando,rolando para todos os lados.Vazio.Eo motivo era óbvio:mulher não entra na sauna,talvez para dar descanso aos rapazes.
Tiro o roupão e entro na sauna a vapor.Fico em pé,parado,no meio da sala.Dez minutos e não entra ninguem.De repente chega um homem,de uns 45 anos.Ele se senta e fica olhando para o meu corpo.Êpa!Será possivel?Incomodado,digo uma das frases mais estúpidas da minha vida?

-Está quente aqui,não?
Ele vai subindo o olhar lentamente e com toda razão,não me perdoa.
-É claro,você está numa sauna.
Rapidamente,decido tomar um banho.
Refrescado,subo para o primeiro andar e vejo Vera ainda junto a mesa de sinuca..Deve passar a noite toda marcando ponto alí.Agora está com Kren,uma matogrossense baixinha e morena, metida em um maiô branco de renda.Tem uns quilinhos a mais-nada,no entanto,que a impeça de usar um maiô daqueles,ao contrário de outras moças de corpo disformes e realmente gordas.
Parece que estamos em um açougue,pois essas usam fio-dental,que deixam carnes livres para cair.Kren estica o corpo sobre a mesa e, no momento em que vai dar a tacada,leva uma estocada na derriére.Ela se vira e dá com Roberto,fingindo-se de sonso,segurando um cigarro apagado.

-Tem fogo querida??
Kren não entende a ''gentileza'' e o dispensa.Uma terceira moça que até então se escondia entre duas amigas,revela-se uma violenta protetora de Karen.Coloca o taco de sinuca entre as pernas,partindo da vagina,como se estivesse estimulando um pênis.Vai na direção de Roberto com o taco em riste:

-Vem cara,vem.É isso que você quer?-diz ela,cutucando-o.Quase acerta o rosto dele.Então,desiste,abaixa o taco e dá de costas a Roberto.Desolado,o rapaz vem para o meu lado,dá um sorriso forçado e começa a desfiar o novelo.

-Nem sempre elas são simpáticas,sabe?Não ligo não.Gosto de vir aqui,me sinto em casa.Mulher para todo lado,futebol na tv,música,bebida.O que um homem pode querer mais?
-Mais sexo,certo?
Ele me olha meio pertubado.Aproveito então,para fazer a pergunta fatal,que nenhum outro vivente alí,normalmente faria:
-Você é casado?-pergunto,mesmo notando uma aliança na mão esquerda.
-Sou.-responde seco.
-E vem sempre aqui?
-Uma vez por mês.Pra relaxar.
-A tua desculpa deve ser boa....
-Boa nada-rebate,com sinceridade acapachante.-Digo para a minha mulher a mesma coisa que a maioria aqui deve dizer:''Vou jogar bola com os ''caras'' num desses futebol society da vida''-diz ele,imitando a forma como os tais ''caras'' devem falar.Imagino que se todos os homens que dizem frequentar quadras fossem mesmos jogar bola,cada um passaria 20 anos esperando a vez de entrar em campo.
Homem é um ser curioso.Uma legião de outros rapazes que chegam as portas da casa usa artificios até mais engenhosos.É o caso de Ernesto,ele sim,é professor de verdade.
Ernesto diz a mulher que prepara tese de doutorado,apesar de nem ter o mestrado:

-Sua mulher nunca desconfiou?
-Um vez,mas consegui engana-la.Mas não pense que me sinto bem fazendo isso.Sinto culpa,muita culpa.
-Então porque continua?
-É inevtável,adoro esse clima,conversar com as meninas,apalpar,beijar,namorar.Faz com que eu me sinta homem de verdade.Sem cobranças,sem compromissos.
Fico estarrecido com sua sinceridade e devo estar aparentando o choque.Lentamente e meio sem jeito,ele começa a sair.É claro que há compromisso e este se enquadra na categoria financeira..E ode não haver cobrança no primeiro dia,para o cliente eventual,mas no segundo,com certeza,haverá.Prova é a forma como são recebidos alguns habituês-pelo menos quatro ou cinco deles estavam nas duas visitas que fiz ao local.As moças ja na recepção,os abraçavam calorosamente e sapecam a pergunta logo de partida::

-Por que você não veio na semana passada?
Mulher,teu nome é cobrança.Não que isso seja ruim-as vezes é-,mas não deixa de ser caracteristica do gênero.Exemplo disso é Ricardo,um carioca que na melhor das hipóteses,deve ter uns 17 anos.Bonito.Está apreensivo.Enquanto bebo um refrigerante,sentado a beira do balcão do bar,ele abraça e beija uma menina.Abruptalmente,Ricardo se vira para o meu lado,e diz,no tom meio dramático dos adolescentes:

-Ela não é linda??,ele diz,pedindo a minha aprovação.Não é,mas não é o caso de magoar ninguem.

-Ô-digo-lindona.
-Diz que não posso viver sem ela.
-Ele não pode viver sem você,falo para a menina,muito pouco convicente.A coisa está se tornando divertida.
-Viu???Até ele percebe que eu te amo.Vamos sair daqui,vamos??
-Ah,sair eu não posso.E outra:sem pagar,não dá não.-Ela,claramente é adepta da '' cobrança de resultados ''.
-Mas você é a mulher da minha vida,não preciso pagar.-diz Ricardo,jogando-se nochão,aos pés de sua diva.
Todos que estão ali por perto olham,complacentes.Três ou quatro meninas ameaçam ajuda-lo a se recobrar do que parece ser um caso de paixão mortal,irreversivel,mas desistemdiante do olhar fulminante da Julieta local.Ela o quer,assim no chão.Um trapo.Talvez ele também,mas gostaria de te-la nua,rolando junto na relva.

-Estou apaixonado,-geme o miseravel.
-Sem pagar,não tem paixão,nem negócio e nem mais beijinho.
Tenta beija-la,mas ela nem se mexe.Aplica-lhe beijocas pelo rosto.Julieta está irredutivel.Os garçons riem,se divertem com tipos exdrúxulos.Deve ser bom trabalhar em um lugar assim.Casa cheia,alegre,e muito dinheiro circulando.Se segunda a quinta,o movimento é maior-dia de jogo de futebol society,é claro.É quando o número de meninas chega a 130 e os clientes,a 300.Os fins de Semana são fracos,frequentados só pelos solteiros..
Uma voz masculina,com aquele jeitão de mestre-de-cerimonia,faz a delicia de muitos dos rapazes que vão a casa:os shows de streap-tease.São duas modalidades:moça tirando a roupa com vítima.Esta ultima é a mais divertida e também a opção preferida de despedidas de solteiro.Eles indicam o nome do infeliz para o locutor que convoca:

-Vamos chamar para o palco o nosso amigo Pacheco.
Se concordar,o Pcheco vai.Senão,depous do clima de mal-estar e de mais umas chamadas do locutor,surge outra vítima.Sentado em uma poltrona no centro do palco,normalmente usando calça e camisa social,desalinhado e ja sem gravata,o Pacheco fica alí,esperando o volume da música subir.As luzes são apagadas,ficando apenas as ritmicas pulsando,coloridas,e as estroboscópicas.Por trás,vem ela-normalmente uma das moças mais bonitas da casa-vestida á pantera(blazer e shortinho de veludo com estampa de oncinha).Num relance,ela se engancha no pescoço do Pacheco em questão e começa o que poderia ser chamada,sem exagero,de '' dança da destruição ''.Ela passa a mão,acaricia,roça,espreme,aperta,trepa,mói,lambe,enlaça com as pernas o seu pescoço deixando o vértce apertando o seu nariz,enfim,tritura o pobre coitado que não pode reler um dedo em sua algoz.É a prova da superioridade feminina,inequívoca.No final,ela deixa o palco ovacionada pela platéia:ele,arrastando-se,tenta parecer um pouco digno.Mas é dificil.Sucumbirá em pouco tempo,encostando-se no balcão do bar.Assim,estará pronto pra cair na rede da primeira sereia que cruzar a sua frente.As moças farão fila e pegarão senha.Pronto:o Pavheco é presa facil.Viva o Pacheco!!
Durante o show,na platéia ocorre um movimento intrigante.Quando a luz começa a cair,as moças que ainda não conseguiram o seu par se esforçam para capturar um.Naquele momento,a única certeza é que o cidadão ficará excitado,uma '' situação '' que não pode ser desprezada.Um dos alvos principais são os orientais,frequentadores com direito a garrafa de uísque exclusiva na prateleira do bar e seus nomes grafados no rótulo de Black Label.São tratados com reverencia.Essa minoria circula de roupão branco,como se estivesse em casa.
Da mesma forma que os homens,passiveis de serem classificados em categorias,(o passional,o entumado,o tímido,o machão,o grosseiro.),as mulheres locais tambem podem ser indexadas.Há as objetivas,como Simone,as atrevidas como Bruna,as dificeis como Vera,as desligadas,como Karen.Mas há as que mal saem de seus lugares durante todo o expediente.Tal e qual irmãs Cajazeiras daquela novela ''O Bem Amado '',ficam futricando pelos cantos,em duplas,ou trios.Olham com desprezo para a clientela quando assediadas.Se não estão la pra ganhar dinheiro,devem estar só pelo lado social da coisa.
São 2h30.As moças que ainda não levaram clientes para o andar de cima já estão desistindo.Perderam o dia.Karen chega perto,se encosta e pergunta com todo charme que lhe é possivel?

-Você me paga uma água????
-Claro.Nem precisava falar desse jeito.
-A gente nunca sabe,neh?
-Não sabe o que???
-Nada,nada.Vamos fazer???????-diz mecanicamente.
-Acho que não,você parece não estar com muita vontade.
-Estou meio devagar hojr.-ela geme:
-Mas posso fazer um esforço
-Não se preocupe comigo.Também não estou a fim.

O clima de fim de festa me contagiou.Pago a conta.A recepcionista,com o fim de energia que restou,esboça um sorriso:

-Gostou da casa?
-Ah,sim.Muito.
-Então não se esqueça:da próxima vez,se o senhor vier na hora do almoço,terá direito também ao periodo da noite sem pagar a entrada(R$ 70).
-Vocês são espertas.Querem que a gente fique aqui o dia todo.
-Pode ter certeza disso.




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